O carbono merece um destaque especial porque a química do ser vivo usa e abusa deste elemento. Por que o carbono? Todos sabem que a química da vida é baseada no carbono, embora não seja óbvio por quê. É claro que outros elementos são importantes também, como hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre, metais etc., mas dentro do contexto de vida e de processos vitais, lidaremos essencialmente com um esqueleto de carbono ligado aos outros elementos.
Apesar de o carbono exibir características químicas que o tornam adequado ao processo vital, tem também que preencher um outro requisito: a abundância. Para que possamos dar prosseguimento à narrativa, temos que fazer uma breve consideração sobre como surgiram os elementos que compõem o Universo, principalmente o carbono.
A razão para a seleção do carbono como o elemento vital se deve a suas propriedades químicas peculiares, que serão enumeradas e explicadas mais adiante.
Conforme já mencionamos, especula-se que as partículas fundamentais da matéria – prótons, elétrons e nêutrons -, que coletivamente podem ser chamadas de bárions, tenham se formado 15-5 segundos depois do Big Bang. A escala que mostra os principais eventos depois do Big Bang encontra-se abaixo.
Apesar de o carbono exibir características químicas que o tornam adequado ao processo vital, tem também que preencher um outro requisito: a abundância. Para que possamos dar prosseguimento à narrativa, temos que fazer uma breve consideração sobre como surgiram os elementos que compõem o Universo, principalmente o carbono.
A razão para a seleção do carbono como o elemento vital se deve a suas propriedades químicas peculiares, que serão enumeradas e explicadas mais adiante.
Conforme já mencionamos, especula-se que as partículas fundamentais da matéria – prótons, elétrons e nêutrons -, que coletivamente podem ser chamadas de bárions, tenham se formado 15-5 segundos depois do Big Bang. A escala que mostra os principais eventos depois do Big Bang encontra-se abaixo.
Nota-se no diagrama que aos 3 minutos ocorre a nucleossíntese. Para nossa discussão sobre o carbono (e outros elementos também), essa é a etapa que mais importa. Durante a nucleossíntese, os elementos propriamente ditos se formaram.
A formação dos elementos só foi possível depois que a enorme energia inicial do Big Bang dissipou-se o suficiente para que os bárions – partículas subatômicas, como o pronto do núcleo atômico – pudessem se associar formando os átomos e, consequentemente, os elementos. Para que a nucleossíntese pudesse ocorrer era necessário contar com uma “janela” na qual o nível de energia não poderia ser aquele inicial, mas ainda bastante alto. Supostamente, essa janela foi atingida no terceiro minuto da criação do Universo.
O processo de fusão nuclear pode ser observado nas estrelas. No Sol, por exemplo, a enorme energia produzida, e que em parte sustenta a vida na Terra, é o resultado da fusão nuclear. No Sol e em grande número de estrelas, a produção de energia decorre da fusão de átomos de hidrogênio. O átomo de hidrogênio só tem um próton (cinza) e, assim, antes de gerar o hélio, conforme mostrado na figura abaixo, fundiu-se com um nêutron, gerando o deutério. Em seguida, o deutério e um nêutron, adicionado ao trítio, geram, então, o elemento hélio.
A formação dos elementos só foi possível depois que a enorme energia inicial do Big Bang dissipou-se o suficiente para que os bárions – partículas subatômicas, como o pronto do núcleo atômico – pudessem se associar formando os átomos e, consequentemente, os elementos. Para que a nucleossíntese pudesse ocorrer era necessário contar com uma “janela” na qual o nível de energia não poderia ser aquele inicial, mas ainda bastante alto. Supostamente, essa janela foi atingida no terceiro minuto da criação do Universo.
O processo de fusão nuclear pode ser observado nas estrelas. No Sol, por exemplo, a enorme energia produzida, e que em parte sustenta a vida na Terra, é o resultado da fusão nuclear. No Sol e em grande número de estrelas, a produção de energia decorre da fusão de átomos de hidrogênio. O átomo de hidrogênio só tem um próton (cinza) e, assim, antes de gerar o hélio, conforme mostrado na figura abaixo, fundiu-se com um nêutron, gerando o deutério. Em seguida, o deutério e um nêutron, adicionado ao trítio, geram, então, o elemento hélio.
Quando todo o hidrogênio se esgotar no Sol, o que provavelmente acontecerá daqui a cerca de 5 bilhões de anos, o próprio hélio será consumido, dando origem à formação de elementos mais pesados. Nesse momento, o Sol se converterá numa estrela gigante vermelha e atingirá um volume muito maior que o atual. Bem antes dessa época, a vida na Terra já teria se extinguido, porque as temperaturas na superfície do planeta serão tão altas que, por exemplo, não haverá mais água; todos os oceanos ferverão e o vapor de água já se dissipará no espaço. A própria crosta terrestre assumirá uma consistência semelhante à lava vulcânica. Se ainda estivéssemos vivos, poderíamos observar o Sol ocupando todo o céu visível. Dada a proximidade com o Sol, nesse momento a Terra seria inevitavelmente engolfada pelo gigante vermelho, fazendo companhia a Mercúrio e Vênus. Mas essa é uma outra história. Voltemos ao começo.
Ainda durante os minutos inicias do Universo, a nucleossíntese prosseguia gerando outros elementos além do hidrogênio e do hélio. Segundo o processo chamado de triplo alfa, o carbono teria se formado. A formação do carbono pela reação do triplo alfa é mostrando na figura abaixo.
Ainda durante os minutos inicias do Universo, a nucleossíntese prosseguia gerando outros elementos além do hidrogênio e do hélio. Segundo o processo chamado de triplo alfa, o carbono teria se formado. A formação do carbono pela reação do triplo alfa é mostrando na figura abaixo.
Nessa reação, dois átomos de hélio se fundem formando o núcleo do berílio. Em seguida, um núcleo de hélio e um núcleo de berílio se fundem, formando então o núcleo excitado do carbono-12, cuja característica é a emissão de raios gama. Esse processo do triplo alfa já foi confirmado experimentalmente.
Com essa informação podemos aceitar que a reação que deu origem ao carbono é de fato o processo triplo alfa, e que essa fusão ainda ocorre nas estrelas. Assim, os seres vivos da Terra são verdadeiramente filhos de estrelas que provavelmente nem existem mais.
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O carbono reúne várias características não encontradas em outros elementos; dentre estas, podemos destacar as principais:
1- Pode estabelecer quatro valências diferentes. Com si próprio, ou com outros elementos, tais como o oxigênio, o nitrogênio, o enxofre e o hidrogênio. Essa propriedade química também confere ao carbono a capacidade de formar compostos ramificados. Dentre os elementos mais abundantes na crosta terrestre, o carbono é sabidamente aquele que forma o maior número de compostos.
2- As valências entre o carbono e os vários outros átomos, embora estáveis nas temperaturas terrestres, possuem energias de ligações não muito altas. Isso significa que é possível romper as ligações com energias que são facilmente obtidas na célula viva. Essa situação é compatível, portanto, com processos reversíveis, o que para a homeostasia característica das células vivas é muito importante.
3- Os compostos de carbono (em especial os hidrocarbonetos) são praticamente infinitos em sua variedade estrutural.
4- As valências entre o carbono e outros átomos e radicais possuem uma flexibilidade tal que as estruturas tridimensionais podem apresentar muitas formas diferentes. Isso significa que as valências do carbono sofrem torções que tornam possíveis a aproximação de muitos grupos reativos. Essa é, na verdade, a base da reação enzimática e da ligação entre ligantes e receptores.
A tabela abaixo mostra as abundâncias relativas de vários elementos no Sol e na crosta terrestre.
Percebe-se claramente que o carbono possui uma abundância relativa que fica abaixo da do hidrogênio, do oxigênio e do silício, por exemplo. Nessa lista, o carbono ocupa o oitavo lugar. Podemos concluir então que, para a formação da vida, o carbono foi de fato selecionado por suas propriedades e não apenas pela abundância.
A propriedade de formar quatro valências não é exclusividade do carbono. O silício, que é muito mais abundante na crosta terrestre que o carbono, também forma quatro valências. Por outro lado, o silício não forma valências com a mesma diversidade apresentada pelo carbono.
A tabela abaixo mostra as valências mais comuns do carbono, juntamente com as suas energias de ligação – a energia necessária para romper estas ligações. Para entender o que é energia de ligação, imagine que você esteja segurando dois ímãs que estão ligados um ao outro. O esforço para separá-los equivale à energia necessária para romper valências químicas.
A propriedade de formar quatro valências não é exclusividade do carbono. O silício, que é muito mais abundante na crosta terrestre que o carbono, também forma quatro valências. Por outro lado, o silício não forma valências com a mesma diversidade apresentada pelo carbono.
A tabela abaixo mostra as valências mais comuns do carbono, juntamente com as suas energias de ligação – a energia necessária para romper estas ligações. Para entender o que é energia de ligação, imagine que você esteja segurando dois ímãs que estão ligados um ao outro. O esforço para separá-los equivale à energia necessária para romper valências químicas.
Esse parâmetro dá uma ideia da afinidade entre átomos que fazem parte de uma determinada valência. Quanto mais alta for a energia de ligação, mais estável a molécula, e de uma certa forma, menos reativa. Conforme veremos mais adiante, a célula viva só é viável porque contém um conjunto de moléculas que, no contexto das reações químicas, caracterizou-se por apresentar energias de ligação não muito altas. Tal situação facilita a reversibilidade das reações, as degradações de uma forma geral, a substituição de radicais etc. Se, ao contrário, as moléculas fossem muito estáveis e, portanto, mais inertes, pouco reativas, haveria uma menor possibilidade de que as reações ocorressem com a energia disponível na célula viva, ou ao seu redor. Ao conjunto de reações químicas que ocorrem nas células dá-se o nome de metabolismo.
Os compostos à base de silício apresentam diferenças consideráveis no que tange ao metabolismo. Vários autores (mormente de ficção científica) já propuseram que em outros ambientes o silício poderia também formar a base química de vida alienígena. Entretanto, esses autores também levaram em consideração que, no caso do silício, as valências são pouco flexíveis (mais resistentes a torções), o que restringe o número de tipos possíveis de estruturas tridimensionais. Outras valências do silício são muito estáveis, como nas moléculas dos silicatos. Por exemplo, o silicone, um polímero à base de silício, é formado por ligações alternadas entre o Si e O. Essas ligações são muito estáveis, pouco reativas, o que nem sempre é vantajoso no ambiente da célula viva. Compostos pouco reativos produziriam um metabolismo excessivamente lento. Além disso, a maioria dos polímeros de silicone é insolúvel na água, o que dificultaria muito o contato entre os reagentes e, em consequência, as reações entre estes.
Há ainda a situação inversa, como aquela de alguns compostos de silício cujas valências são muito instáveis. Por exemplo, os silanos – polímeros apresentando ligações diretas entre átomos de silício. Os silanos são estáveis apenas em temperaturas muito baias e, além disso, degradam-se facilmente na água. Quem sabe os silanos seriam a base da química vital em um ambiente bem mais frio do que aquele na Terra?
Como já foi mencionado, compostos do silício são pouco solúveis, o que também se torna um problema quando consideramos as reações químicas que envolvem gases. Por exemplo, a molécula do SiO2, equivalente ao dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2), é sólida à temperaturas ambiente (o cristal de quartzo é comumente encontrado como areia). Por outro lado, sabemos que o CO2 é gasoso (pode formar uma atmosfera) e é altamente solúvel em vários solventes, sobretudo a água. Essas propriedades favorecem reações químicas envolvendo o CO2 devido a sua rápida difusão em vários meios distintos, ao contrário do quartzo. A solubilidade de um composto num determinado solvente permite uma velocidade de reação muito maior que aquela verificada entre reagentes sólidos.
Ao contrário do silício, o carbono permite a existência de literalmente milhões de compostos diferentes. Essa diversidade inclui pequenas moléculas orgânicas e polímeros. Os hidrocarbonetos incluem estruturas lineares e ramificadas, o que aumenta enormemente a diversidade destas moléculas. Ademais, pode-se afirmar que sempre é possível acrescentar mais um átomo de carbono a um hidrocarboneto.
Além dos hidrocarbonetos, existem outras grandes moléculas nas quais ocorrem ligações C-C. Os exemplos mais atuais são os fulerenos, que podem apresentar uma rica coleção de formas, e também os nanotubos de carbono. Em comparação, os polímeros à base de silício são mais monótonos, isto é, não exibem a variedade de estruturas poliméricas observadas nas células, dentre as quais apenas as proteínas apresentam milhares de variantes.
Percebe-se, diante desses dados, que na probabilidade de ocorrência de reações químicas sob as condições ambientais encontradas na Terra primitiva e na contemporânea, as moléculas à base de carbono claramente destacam-se. Compreende-se assim que a probabilidade de que o carbono – não um outro elemento – tenha constituído a base da vida aumente devido ao enorme acervo molecular disponível para reações diversas, mesmo em condições abióticas.
Desse modo, a ocorrência do carbono na crosta terrestre torna plausível uma situação na qual os compostos de carbono, assumindo a mais variadas estruturas, tenham interagido entre si, formando uma malha complexa que oportunamente adquiriu propriedades distintas, que hoje denominamos vida.
Para reforçar ainda mais a versatilidade do carbono, sabemos que além dos compostos normais encontrados nos seres vivos, este elemento pode assumir estruturas cristalinas, cujas propriedades físico-químicas entre si são muito distintas. Exemplos clássicos são o grafite, cujas aplicações são múltiplas (lápis, lubrificantes especiais e reatores nucleares) e o diamante.
Veremos depois como o carbono, a água e outros ingredientes básicos da vida podem ter chegado à Terra.
Os compostos à base de silício apresentam diferenças consideráveis no que tange ao metabolismo. Vários autores (mormente de ficção científica) já propuseram que em outros ambientes o silício poderia também formar a base química de vida alienígena. Entretanto, esses autores também levaram em consideração que, no caso do silício, as valências são pouco flexíveis (mais resistentes a torções), o que restringe o número de tipos possíveis de estruturas tridimensionais. Outras valências do silício são muito estáveis, como nas moléculas dos silicatos. Por exemplo, o silicone, um polímero à base de silício, é formado por ligações alternadas entre o Si e O. Essas ligações são muito estáveis, pouco reativas, o que nem sempre é vantajoso no ambiente da célula viva. Compostos pouco reativos produziriam um metabolismo excessivamente lento. Além disso, a maioria dos polímeros de silicone é insolúvel na água, o que dificultaria muito o contato entre os reagentes e, em consequência, as reações entre estes.
Há ainda a situação inversa, como aquela de alguns compostos de silício cujas valências são muito instáveis. Por exemplo, os silanos – polímeros apresentando ligações diretas entre átomos de silício. Os silanos são estáveis apenas em temperaturas muito baias e, além disso, degradam-se facilmente na água. Quem sabe os silanos seriam a base da química vital em um ambiente bem mais frio do que aquele na Terra?
Como já foi mencionado, compostos do silício são pouco solúveis, o que também se torna um problema quando consideramos as reações químicas que envolvem gases. Por exemplo, a molécula do SiO2, equivalente ao dióxido de carbono ou gás carbônico (CO2), é sólida à temperaturas ambiente (o cristal de quartzo é comumente encontrado como areia). Por outro lado, sabemos que o CO2 é gasoso (pode formar uma atmosfera) e é altamente solúvel em vários solventes, sobretudo a água. Essas propriedades favorecem reações químicas envolvendo o CO2 devido a sua rápida difusão em vários meios distintos, ao contrário do quartzo. A solubilidade de um composto num determinado solvente permite uma velocidade de reação muito maior que aquela verificada entre reagentes sólidos.
Ao contrário do silício, o carbono permite a existência de literalmente milhões de compostos diferentes. Essa diversidade inclui pequenas moléculas orgânicas e polímeros. Os hidrocarbonetos incluem estruturas lineares e ramificadas, o que aumenta enormemente a diversidade destas moléculas. Ademais, pode-se afirmar que sempre é possível acrescentar mais um átomo de carbono a um hidrocarboneto.
Além dos hidrocarbonetos, existem outras grandes moléculas nas quais ocorrem ligações C-C. Os exemplos mais atuais são os fulerenos, que podem apresentar uma rica coleção de formas, e também os nanotubos de carbono. Em comparação, os polímeros à base de silício são mais monótonos, isto é, não exibem a variedade de estruturas poliméricas observadas nas células, dentre as quais apenas as proteínas apresentam milhares de variantes.
Percebe-se, diante desses dados, que na probabilidade de ocorrência de reações químicas sob as condições ambientais encontradas na Terra primitiva e na contemporânea, as moléculas à base de carbono claramente destacam-se. Compreende-se assim que a probabilidade de que o carbono – não um outro elemento – tenha constituído a base da vida aumente devido ao enorme acervo molecular disponível para reações diversas, mesmo em condições abióticas.
Desse modo, a ocorrência do carbono na crosta terrestre torna plausível uma situação na qual os compostos de carbono, assumindo a mais variadas estruturas, tenham interagido entre si, formando uma malha complexa que oportunamente adquiriu propriedades distintas, que hoje denominamos vida.
Para reforçar ainda mais a versatilidade do carbono, sabemos que além dos compostos normais encontrados nos seres vivos, este elemento pode assumir estruturas cristalinas, cujas propriedades físico-químicas entre si são muito distintas. Exemplos clássicos são o grafite, cujas aplicações são múltiplas (lápis, lubrificantes especiais e reatores nucleares) e o diamante.
Veremos depois como o carbono, a água e outros ingredientes básicos da vida podem ter chegado à Terra.
1. Introdução
1.1 Como a Vida Surgiu e Como Evoluiu
2. A Origem da Vida
2.1 Monismo e Dualismo
2.2 O Universo
2.3 O Universo em Expansão
2.4 Outros Modelos do Universo
Fonte: Readaptação de AB INITIO de Franklin David Rumjanek
Ñ GOSTEI NENHUM POUCO!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirObrigado Muito Bom msm...Me foi de grande ajuda!
ResponderExcluirola, estou com uma duvida poderia me ajudar? como o hidrogenio surge origem no hidrocarbonetos, sei que carbono restos organicos, mas e o hidrogenio. aguardo.
ResponderExcluirola, estou com uma duvida poderia me ajudar? como o hidrogenio surge origem no hidrocarbonetos, sei que carbono restos organicos, mas e o hidrogenio. aguardo.
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