sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Origem da Vida: O Universo


A origem do Universo ainda está cercada por polêmica e controvérsia porque é uma questão cuja complexidade talvez supere aquela da origem da vida. Isso acontece porque as hipóteses sobre a origem da vida podem recorrer a modelos químicos plausíveis. Já os astrofísicos têm necessariamente que apelar para uma física desconhecida, pela de condições especiais e heterodoxas. É claro que essa é uma física desconhecida em comparação àquela que foi estabelecida após o momento inicial do Universo. Poderíamos afirmar que, antes do início, não havia física alguma. Os próprios físicos sentem dificuldade em compreender algumas das hipóteses lançadas mais recentemente. Nossa discussão sobre a origem do Universo não pretende esgotar todas essas proposições, apenas concentrar-se nos modelos mais hegemônicos, como o do Universo em expansão. Dentro desse tópico, procuraremos abordar de modo mais específico aqueles aspectos diretamente ligados à formação das estrelas e planetas e à origem do elemento carbono, que, em última análise, determinou a química dos seres vivos.

Para que a diferença entre a interpretação dualista e a monista fique clara, apresentaremos antes algumas versões dualistas para a origem do Universo. Segundo a visão dualista, num dado momento, o Universo, inclusive a Terra, foi criado por uma ou por múltiplas entidades divinas. As principais doutrinas de várias culturas do mundo apresentam versões que variam entre si, mas fundamentalmente descrevem o surgimento da Terra e do Universo como uma manifestação sobrenatural, ou melhor, uma manifestação que transcende nosso conhecimento atual. Há também, como veremos adiante, alguns pontos em comum.

Segundo os egípcios, Ra ou Re, deu à luz si mesmo. De sua saliva nasceram Shu, o ar, e Tefnut, a umidade. Shu e Tefnut geraram Geb, o deus da Terra, e Nut, a deusa dos céus. Os seres humanos vieram das lágrimas de Re e assim por diante.

O mito sérvio da criação afirmava que no começo não havia nada a não ser Deus, que dormia e sonhava durante muitas eras. Quando finalmente Deus despertou, cada um de seus olhares transformou-se numa estrela. Deus gostou do que viu e dispôs-se a viajar, mas aonde quer que chegasse não percebia um fim ou um limite. Quando, enfim, chegou à Terra, estava cansado e o suor de sua testa caiu no chão e deu origem à vida.

Já o mito chinês narra a criação da seguinte forma: no começo dos tempos, tudo era caos e o caos apresentava a forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Ying e Yang, que eram a escuridão e a luz, o feminino e o masculino, o frio e o calor e o seco e o molhado. Essas forças opostas acabaram quebrando o ovo. Os elementos mais pesados desceram e formaram a Terra e os mais leves flutuaram e formaram os céus.

Talvez um dos mitos mais interessantes seja o dos aborígines da Austrália, que descreve o começo da Terra como uma planície nua, onde tudo era escuro. Não havia vida nem morte. O Sol, a Lua e as estrelas dormiam embaixo da Terra. Os ancestrais assumiam várias formas enquanto vagavam pela Terra. Às vezes, eram só animais, às vezes eram quimeras entre humanos e plantas. Dois desses ancestrais autocriados a partir do nada eram os Ungambikula, que, em suas excursões, encontraram pessoas feitas pela metade. Essas pessoas não passavam de montes disformes, sem membros ou rostos, e estavam jogados e amontoados perto de poços de água e lagos salgados. Os Ungambikula passaram então a esculpir nesses montes, cabeças, corpos, pernas e braços, até que finalmente os seres humanos foram terminados. Cada homem ou mulher foi feito a partir de uma planta ou animal e, assim, cada pessoa deve fidelidade ao totem do animal ou planta do qual foram feitos. Depois que terminaram seu trabalho, os ancestrais voltaram a dormir. Ao voltarem para suas casas subterrâneas, deixaram traços de sua presença em rochedos, poços ou árvores. Sem muito esforço veremos que essa versão aborígine é extremamente atual, uma vez que hoje se considera que as espécies existentes e as extintas são verdadeiras quimeras de nossos ancestrais, isto é, todas as espécies possuem um vínculo familiar entre si e com o ancestral universal.

Há muitos outros mitos, mas bastam os aqui mencionados para se perceber eu existem características comuns entre eles. Quase todos narram um estado inicial em que não havia nada. Como resultado de um capricho divino passou a existir matéria. Nesse particular, tirando-se o capricho divino, não há muita diferença entre os mitos e alguns modelos monistas.

Outro ponto em comum é o ambiente em que os humanos viveram e que, naturalmente, condicionou o cenário da narrativa da criação. Por exemplo, para os nórdicos da Islândia, o cenário da criação contém gelo, lava, fontes termais etc. Para os egípcios, a fonte de tudo estava claramente no firmamento, e para os aborígines, a criação se deu num cenário típico de certas regiões da Austrália e assim sucessivamente. Outra influência notável é o antropomorfismo, ou seja, as divindades exibem comportamentos, forma e pensamentos característicos do ser humano. Isso é extensivo ao cristianismo, ao islamismo e ao judaísmo. Em conclusão os mitos e as religiões parecem ser criações humanas. Nesse sentido, a própria ciência também se encaixa na categoria das invenções humanas.

É importante ressaltar também que, em quase todos os mitos, a água e a energia sob uma forma ou outra estão sempre presentes, o que, conforme veremos mais tarde, está de acordo com muitas hipóteses monistas sobre a origem da vida. O mesmo acontece com o problema da falta de organização, pois em muitos mitos o início é invariavelmente descrito como um estado caótico.

No caso dos aborígenes, essa percepção aguçada da natureza chega até conceitos evolucionistas, que claramente sugerem uma trajetória bastante contemporânea sobre a origem das espécies. Os próprios aborígenes podem também ser considerados como precursores da paleontologia, pois ao narrar que os ancestrais sagrados deixaram traços de sua presença nos rochedos, poços e árvores, certamente reconheciam os fósseis como vestígios do passado.

Para os monistas, o Universo tanto pode ter sido criado num dado momento, como pode ter sempre existido. Nesse particular, dualistas e monistas não divergem muito no que diz respeito aos aspectos essenciais dessa discussão. No entanto, os materialistas tentam explicar o surgimento do Universo somente por meio de forças físicas, mesmo que, devido à nossa ignorância, essas forças divirjam um pouco da física nossa de cada dia. Veremos depois quais são as origens das explicações sobre o Universo em expansão e o Universo eterno.




1. Introdução
1.1 Como a Vida Surgiu e Como Evoluiu
2. A Origem da Vida
2.1 Monismo e Dualismo




Fonte: Readaptação de AB INITIO de Franklin David Rumjanek

2 comentários:

  1. eu sei q foi deus q criou o mundo disso eu n tenho duvida

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  2. "Há muitos outros mitos, mas bastam os aqui mencionados para se perceber eu existem características comuns entre eles. Quase todos narram um estado inicial em que não havia nada. Como resultado de um capricho divino passou a existir matéria."

    Esta concepção está completamente errada. A mitologia humana apresenta muitas variações sobre este tema. Para além dos mitos ditos de "criação", onde o universo foi efetivamente criado por forças específicas em um dado momento, temos uma miriade de mitos que podem ser entendidos como de "transformação", onde o mundo já pré existia e foi humanizado ou culturalizado em algum momento. E é neste momento, de humanização do mundo, que a narrativa mítica se resume, não se importando, ou dando uma importância mínima, a criação de tudo. Muitos mitos originais de sociedades indígenas brasileiras são deste segundo tipo.

    Reduzir a narrativa humana de nossas origens a apenas uma proposta de criação a partir de um ponto zero, como na religião cristã ou na ciência, é empobrecer nossa história e desmerecer a imensa criatividade humana.

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